DOCES CONVENTUAIS

Os doces estiveram sempre presentes nas refeições dos conventos, mas somente a partir do séc. XV, com a divulgação do açúcar, atingiram notoriedade. Açúcar e ovos (principalmente gemas, pois as freiras utilizavam muito as claras para engomar os hábitos e as gemas eram dispensadas) são os dois elementos que mais caracterizam os doces conventuais, embora também constem outros, nomeadamente, frutos secos e especiarias. Há que ter em conta que, naquela época, a população feminina dos conventos era, na sua maioria, composta por mulheres que não tinham escolhido a vida conventual por fé, mas sim por imposição social (“As heranças iam para os primogénitos e as meninas nobres iam para os conventos”), pelo que não se dedicavam apenas a rezar. Além dos seus dotes de importantes rendimentos, traziam consigo hábitos de alimentação e receitas familiares que deram a origem a requintadas preparações gastronómicas e a doçaria rica e, por vezes, complicada. Para se entreterem durante o interminável tempo de clausura, foram diversificando e aprimorando as receitas trazidas. O nível cultural existente nos conventos, como em mais nenhum outro local, e nestas freiras em particular, permitiu o registo e longevidade dessas alterações, contribuindo largamente para o sucesso na criação de uma verdadeira doçaria conventual. A partir de 1834, quando foi decretada a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, as freiras e monges (monges e frades, tirando raras exceções, dedicavam-se mais aos vinhos, licores e aguardentes) viram-se confrontados com a necessidade de angariarem dinheiro para o seu sustento. A venda de doces conventuais foi uma das formas encontradas para melhorar a sua situação financeira. Os nomes atribuídos aos doces estão na maioria das vezes relacionados com a vida conventual. Alguns exemplos disso são: barrigas de freira, fatias dos anjos, fatias de Bispo, papos de anjo, queijinhos do céu e orelhas-de-abade.